Vocação: o que é isso?

“O termo vocação assumiu vários significados na cultura contemporânea, todos centrados na pessoa, ainda que com diferentes modalidades. Por vocação entende-se, em primeiro lugar, o ‘projeto de vida’ que cada um elabora com base em várias experiências e no confronto com um sistema coerente e valores que conferem sentido e direção à vida do indivíduo.

Em sentido mais amplo, o termo vocação pode significar a inclinação para determinada profissão, um conjunto de atitudes e qualidades que levam a escolhas precisas, ou ainda o papel, a tarefa, a missão que uma pessoa se sente chamada a desenvolver em benefício dos outros.

No âmbito religioso, vocação indica o chamado de Deus, como iniciativa própria de amor, e a resposta da pessoa em um diálogo de amor e participação corresponsável. (...) A vocação é por isso um dom que ocorre em um diálogo: pressupõe a iniciativa de Deus e solicita uma resposta da pessoa.”

(BARGIEL, T. Vocação. In: MANCUSO, Vito. Dicionário Teológico Enciclopédico. São Paulo: Loyola, 2003, p. 798)

Vocação ou vocações?

Por muito tempo, a palavra vocação acabou se vinculando apenas às vocações sacerdotais e religiosas. Ter vocação significava ser padre ou freira. Hoje, no entanto, a partir da renovação teológica e pastoral promovida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), a reflexão sobre vocação, passa por pelo menos três dimensões: humana, cristã e eclesial.

Dimensão humana: o chamado à vida

Somos chamados à vida! Eis a primeira e grande vocação de toda pessoa. Criados à imagem e semelhança de Deus – imago Dei, como nos recorda Santo Agostinho – somos chamados a nos realizarmos pessoal e comunitariamente em aliança com Ele. Ou como nos afirma o Papa Francisco: “Para realizar a própria vocação, é necessário se desenvolver, fazer germinar e crescer tudo o que a pessoa é. Não se trata de inventar-se, criar-se do nada, mas da descoberta de si mesmo à luz de Deus e de fazer florescer o próprio ser: ‘Nos desígnios de Deus, cada homem é chamado a desenvolver-se, porque a vida de todo homem é vocação’.” (Christus vivit, 257)

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Dimensão cristã: o chamado à vida com Cristo

Afirma o Papa Francisco: “O fundamental é discernir e descobrir que o que Jesus quer de cada jovem é, acima de tudo, sua amizade.” (Christus vivit, 250). De fato, chamados à vida por Deus, que nos criou como transbordamento do seu amor, somos chamados, todos, à esta amizade com Cristo, rosto do Pai, Verbo feito carne, gente como nós. No mistério de Jesus Cristo se esclarece o nosso próprio mistério (cf. GS 22), “olhando Ele, reconhecemos o melhor de nós mesmos enquanto criaturas criadas, sustentadas e habitadas por Deus, que nos chama à confiança n’Ele e na radical fraternidade com as outras pessoas”. (Queiruga)

A vida por Cristo, com Cristo e em Cristo, ao Pai e no Espírito, através da graça batismal que nos imergiu nesse mistério trinitário, nos faz, por sua vez, discípulos do Senhor, permite-nos experimentar que “a vinculação íntima com Jesus no grupo dos seus é participação da vida saída das entranhas do Pai, é formar-se para assumir seu estilo de vida e suas motivações (cf. Lc 6,40b), seguir sua mesma sorte e assumir sua missão de fazer novas todas as coisas.” (DAp, 131).

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Dimensão eclesial: as vocações específicas na Igreja

O seguimento de Jesus não se dá isoladamente, mas como nos apontou o Documento de Aparecida, no grupo dos seus, na sua Igreja, a qual é chamada a ser sacramento de salvação para todas as pessoas (cf. LG 1). Em sua Mensagem para o 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, em 2016, o Papa Francisco nos recordou essa eclesialidade da vocação: “A chamada de Deus acontece através da mediação comunitária. Deus chama-nos a fazer parte da Igreja e, depois dum certo amadurecimento nela, dá-nos uma vocação específica. O caminho vocacional é feito juntamente com os irmãos e as irmãs que o Senhor nos dá: é uma con-vocação.”

As vocações específicas são a resposta que o Espírito Santo dá às necessidades da Igreja, constituindo os elementos fundamentais de sua vida e da sua missão. Podem ser subdivididas em duas grandes categorias:

vocações aos ministérios eclesiais, ou seja, aos serviços destinados diretamente ao bem da comunidade cristã: ministérios ordenados (bispos, presbíteros e diáconos), ministérios instituídos (acólitos e leitores); ministérios de fato (ministros extraordinários da eucaristia, catequistas, acompanhadores vocacionais, etc);

vocações às formas de vida, ou seja, formas de realizar a vocação cristã em diversas condições de vida: casamento, viuvez, vida consagrada, etc.

Assim, convocados pelo Senhor a fazer parte do seu corpo, a Igreja, observamos uma rica pluralidade de vocações específicas que ao longo dos séculos foram sendo reconhecidas e apontadas como caminhos de santidade, afinal essa é a chamada comum a todos nós: “Os seguidores de Cristo, que Deus chamou e justificou no Senhor Jesus, não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, pelo Batismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte, realmente santos. É necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem, vivendo-a, esta santidade que receberam.” (LG, 40)

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